Transcrição do áudio:
Olá!
Eu sou o Fausto, tenho 27 anos e sou do Campus Diadema.
Eu ingressei aqui na Unifesp há quase 10 anos atrás, em 2010. Eu fui da primeira turma do meu curso, que foi o curso de Ciências.
Eh...Eu tinha na época 17 anos e estava acabando de sair da escola, do ensino médio, escola pública, e por vários fatores estava mudando de Estado.
Eu vinha da periferia, eu só estudei em escola pública, eu tive várias dificuldades no primeiro ano, a ponto de ter tido umas dez dependências naquele ano.
Eh... Também tive dificuldades por causa de transporte. Eu estava morando de favor na casa de familiares e lembro que eu conseguia carona até o Jabaquara, depois vinha andando do Jabaquara até Diadema. Claro que aquela situação durou só até que eu conseguisse a assistência do NAE, que foi importante desde daquele ano até o fim da minha formação, mas foi um ano, assim, muito difícil e muito decisivo. E ter decidido prosseguir se deu a muitos fatores. Eu sabia o quanto que minha família tava se esforçando para que eu pudesse permanecer na Unifesp. Eu sabia que dificilmente eu conseguiria uma oportunidade semelhante, tão fácil, então, eu resisti e fiquei aqui até o final. Hoje, eu sou formado. Acabei de entrar na pós, na pós graduação aqui na Unifesp. Hã, mas pensando nessa trajetória, aconteceram várias coisas, são sete anos! Eu poderia passar o dia inteiro falando sobre como foi esse processo, mas eu vou me focar principalmente no meu primeiro e no meu último ano, para contrastá-los.
No meu primeiro ano, eu tive, além de questões formativas, tive problemas para poder me socializar, me adaptar a essa coisa do ensino superior, a aquilo que se falava tanto sobre a distância que tinha entre o ensino básico e o superior. Eu vivenciei isso muito na pele, mas como eu disse, eu resolvi continuar, mesmo tendo praticamente um ano inteiro de reprovações, eu fui pra frente, muito na base de tentativa e erro, e também ouvindo muito conselho, eu resolvi continuar. A ponto que em meu último ano, eu já não era mais a mesma pessoa, o mesmo estudante que entrou na Unifesp. Eu tinha aprendido a me organizar. Pra mim foi muito importante estabelecer uma agenda, ter um horário, organizar quais eram as atividades que eu faria ao longo do dia e nunca deixar pra última hora para estudar. Eu lembro muito que, há 3 anos, em novembro de 2016, eu tinha uma semana inteira de provas, mas eu consegui sobreviver a essa semana porque eu tinha me organizado para ela. Algo importante que aprendi na universidade foi a sobre a organização. Ela me possibilitou ter controle sobre meus horários, um melhor aproveitamento nos estudos. Porque quando eu entrei, eu não tinha nenhum controle sobre isso. Durante muito tempo eu confiava só na memória. Era suficiente minha memória para decorar tudo de prova, conceitos, conteúdos, minha memória bastava.
Eh... Em termos de compreensão não era um problema, mas à medida que os anos foram passando, as demandas da universidade eram muito maiores do que aquelas que eu tinha na escola. Me organizar me ajudou a aproveitar minha memória e também minha organização, enfim eu melhorei muito minha organização. Em meados de 2013/2014 eu já tinha uma organização de como seriam as matérias ao longo do ano. Eu já tinha uma noção de quais eram os cronogramas de cada disciplina. Então eu sempre anotava tudo. Essas coisas que pareciam bobas, mas eu entrei achando que tudo isso era tolice, que nada disso valia a pena, mas foi aí que eu aprendi a me organizar. Não uma organização qualquer, mas uma organização que me servisse e não servisse à organização. Naquela época muitos colegas sugeriam uma organização aqui, outra ali, mas uma organização que eu não conseguia chegar a nenhum resultado, porque não era a minha. Então, eu precisava aprender uma organização que me servisse. Eu lembro que no último ano, às vésperas de uma prova de cálculo muito importante. Faltavam duas semanas e eu ainda não tinha passado em matérias anteriores, o que me daria embasamento para essa prova. Eu ainda não tinha passado e estava com tudo para reprovar naquela prova. Foi ali que eu decidi me tornar muito mais organizado. Foi meu momento de ápice na minha organização. Eu decidi que eu não reprovaria, que “não” ficaria mais um ano ali e foi aí que eu comecei a pegar as listas de exercícios resolvidos. Eu peguei uns vídeos na internet sobre aquele assunto e foi aí que eu resolvi que faria uma ou duas listas de exercícios para aquela prova todos os dias. Eu sabia que não iria passar naquela prova, mas pra mim era importante estudar para entender desde o começo conteúdo e assim ir avançando. Na primeira prova eu tinha tirado meio, na segunda eu tirei 3, depois fui pra uma sub e tirei 5, pra exame eu precisava de 8 e eu tirei 8,5. Ai, eu entendi que precisava me organizar, porque toda vez que eu ficava só estudando a matéria o dia inteiro, não funcionava. Então, eu lembro que naquele ano eu estudava uns três exercícios, quando sentia que a mente não estava mais fluindo eu ia fazer uma pequena atividade de lazer, que fosse jogar vídeo game,que fosse ler, conversar, enfim me permitia descontrair e depois voltava para o exercício. Enfim, esse mecanismo pra mim foi o que funcionou. Eu lembro que falava assim, você estuda duas três horas e tira uma pausa de meia hora, Pra mim não funcionou. Funcionou fazer daquele jeito, conforme eu ia sentindo que aquela organização entre meu tempo de estudo e meu tempo de lazer estava fluindo, eu fui fazendo. Enfim, deixo esse relato pra dizer que, o começo às vezes, pode parecer algo muito assustador. Eu fiquei 7 anos aqui, eu entendo muito bem disso, mas que com perseverança, com organização e também com apoio, isso é algo que foi muito importante, principalmente em termos afetivos, eu tive muito apoio dos professores, e a partir do tempo que eu fui me socializando com meus colegas e também amigos, também recebi apoio deles. Eu conquistei amigos pra vida aqui. Então, você criando uma relação de foco, organização e vínculo, isso já é meio caminho andado. O resto você vai descobrindo, mas isso já é meio caminho andado para conseguir sair daqui com o diploma e não sair daqui triste porque não conseguiu o diploma ou qualquer coisa do gênero. Enfim, essa lição de que assim, por exemplo, o problema não era cognitivo, não porque eu era burro. No meu caso aprendi a me organizar e terminar o curso. Hoje já trabalho na área, já estou na pós.
Já vi muitos amigos desesperados por ter ficado de exames, não era nem uma DP, mas ficavam tão desesperados por estar vivendo aquilo, que não viam solução. Eu, como já tinha vivido aquilo no primeiro ano, me fortaleci e falava pra elas: “- Olha, você ainda não pegou uma dependência e mesmo que isso aconteça, ainda dá pra continuar.” E foi seguindo essa ideia de que dava era possível, é claro que no decorrer do ano eu fui me transformando, mas seguindo essa ideia: Foi possível!
Então, minha mensagem realmente é essa: não precisa desistir, se for pra desistir que seja daquele tipo de desistência que seja assim: “- Eu quero uma outra coisa pra minha vida e não a desistência do desânimo." Calma! Respira! Se organize! Não pegue muitas disciplinas em um semestre. Isso também é importante. Eu fiz isso em 2015, peguei 9, não funcionou! Quando foi em 2016, eu peguei menos, flui de uma forma mais tranquila e fluiu. Então, há esperança, há luz no fim do túnel e você vai conseguir. Foi isso que aprendi com minha própria experiência e é isso que eu queria compartilhar aqui! (riso de satisfação).