Transcrição do áudio:

 

Oi, meu nome é Santiago, eu fui convidado pra participar deste projeto. Pra dizer a verdade, nem sei, nem ideia do que eu vou falar, mas eu vou falar. Então, pra vocês que me escutam, aqui vai minha história, aliás, um pedaço da minha história, não é toda a história, só um pedaço.

Com 63 anos, eu estava pensando em que mais dois anos se abriria a porta da aposentadoria. Mas… é… eu tinha um problema no Enem com o vestibular, aliás, no vestibular, eu tinha um problema com a redação no Enem. Eles… é… me davam uma nota inferior a que eu precisava. Isso me deixava mordido, porque eu não sabia… eu achava que era bom de redação mas, ruim não. E aí, em 2012, o Enem abriu a possibilidade de fazer a prova com a ideia de… já com o resultado em números de redação. E aí eu decidi fazer… é… o Enem, para ver se eu era bom de redação ou não. E eu fiz. E eu não sou ruim de redação, foi até razoável. O que eu sou ruim mesmo é biológicas, química, física, isso. E química, então, eu sou uma negação. Tanto é que já fiz 8 vezes … aliás, 7 vezes, uma disciplina é… chamada MAC… aliás, eu sou do campus da Baixada Santista, desculpe eu não ter falado antes e nós temos um módulo chamado MAC, módulo do átomo à célula, muita química, muita biologia e um pouco de física e muita genética também. Eu já fiz 7 vezes e tomei pau, claro, sou ruim mesmo. E farei próximo ano pela 8ª vez, até que eu aprenda. Mas, enfim, no Enem, que eu estava contando, eu sabia que eu era ruim… que eu era ruim de química, era ruim de biologia, mas eu queria testar a redação. De fato eu testei e eu fui aprovado em redação. O número, a letra, tudo isso não é significativo, importava de que eu fui aprovado. E, naturalmente, como eu aprovei em redação, eu recebi um convite para entrar na universidade e eu escolhi vir pra Santos. Mal sabia o quanto ia sofrer no MAC, mas isso são problemas particulares. Os professores gostam muito de mim, pra minha sorte. A questão é que, assim, é que… como disse... é se abria a porta da… da… da futura aposentadoria, estou com… estava com 63 anos. Mas eis que, graças ao Enem, se abriu uma outra porta, que é a porta da universidade, da Unifesp, no campus da Baixada Santista. Eu não sei você, mas pra mim, um convite pra entrar na universidade e é nesta universidade, Unifesp, é irrecusável. E claro que eu vim pra cá, não tenha a menor dúvida disso, né. Sou vaidoso, metido e besta… e eu vim. E… não se abriu somente uma nova porta da universidade, o que se abriu foram muitas portas, são as portas do conhecimento, que é infinito. Aqui, na Baixada Santista, está dividido de… a educação… está dividida das seguintes formas, o programa educativo, em 4 eixos: biológicos, inserção social, trabalho e saúde… trabalho em saúde e específicas. Aparentemente, a inserção social e trabalho em saúde parecem, a princípio, que não tem nada a ver com o que nós fazemos. Parece… parece ser que é de outro planeta, que é outra coisa, que não serve pra nada. E claro que quanto…  enquanto nós fazemos esses trabalhos, e dá bastante trabalho, né, muitas atividades, muitas visitas… é… tudo isso… hum…parece que é trabalho a toa. Depois, quando você se forma, e digo isto por colegas minhas que já se formaram, alunos da minha turma, afinal das contas, eu sou DP crônico, esses alunos… é… foram trabalhar em hospitais, em UTIs, em pronto-socorros… é… e há uma grande diferença em relação a esse… e IS e TS. Porque aqui no campus Baixada Santista e esta… e neste… e neste campus tem essa modalidade, mesmo nas outras áreas e nos outros campus da... da Unifesp ainda não chegou esse sistema de… de eixos. Então, quando nós fazemos esses trabalhos de IS, TS e mesmo do MAC, fazemos em grupos multidisciplinares. Significa que cada grupo tem que ter um indivíduo de cada disciplina do campus e entre todos temos que procurar o que tem em comum. Já vou te dizendo, pra você que tá me ouvindo, que isso é enlouquecedor, porque nem sempre os horários das disciplinas batem e nem sempre você encontra… consegue encontrar seus colegas de grupo para fazer o trabalho e tem um agravante que eu sou vagal, indisciplinado, não gosto de estudar e muito menos de fazer as tarefas. Eu sou um amor, pra dizer a verdade, mas enfim, como aluno, eu sou péssimo. Aliás, eu sou a vergonha da fisio, mas não espalha pra ninguém. E isto é muito interessante, porque você aprende a ouvir mais do que a falar. E quando você está fazendo… fazendo um trabalho e num hospital, numa clínica, num posto de saúde, se você não sabe ouvir, você não sabe respeitar. E pior  que isso, você não consegue entender. E isto, neste campus é muito, muito, muito interessante. E você só se dá conta porque você vê que as pessoas que estão no hospital, os doentes, os enfermos, de repente quando os outros seus colegas de outras universidades chegam e apenas perguntam: como tá sua taxa, como tá aquilo, como tá aquilo?... né, sobre a doença, eles, pacientes, se ressentem. E quando chega um colega nosso que pergunta… que… aliás, antes de dizer qualquer coisa, a primeira coisa é bom dia, boa tarde, boa noite, os meus colegas contam que o olho brilha de uma outra forma e eles gostam muito de falar com meus colegas deste campus em função disso, de que meus colegas aprendemos, e eu também, aprendemos a ouvir, aprendemos a ver, aprendemos a sentir e há de convir que isto na área de saúde é difícil de achar. Então, pra você que está ouvindo, na hora que baixar o baixo astral, que você pensar em largar tudo, é legal que você pense assim, porque significa que você está se repensando, significa que você está procurando novas possibilidades. E é nessas que você se repensa, que encontra novas possibilidades, você começa a se enxergar e começa a ver o outro também. E isto é muito bom pra você e também é muito bom pra mim que pude te dizer isto e beijinho pra você. E se você tiver problema com beijinho, um abraço. E se você tiver problema com beijinho e um abraço, vai um aperto de mão. E se você tem problema com tudo isso, tchauzinho pra você. Nos vemos ou nos ouvimos na próxima. Até.