Transcrição do áudio:

 

Meu nome é Denilson, tenho 49 anos, sou do campus Diadema.

E a história que eu vou contar é como eu vi… vim parar na Unifesp.

Eu fui acompanhar um de meus… oh… meus filhos gêmeos na escola, porque eu sou pai de 6 filhos, e os caçulas, e eu observei algumas metodologias de ensino na escola. E uma das coisas que me marcou é que eles estavam na… no 8º ano e eles tinham uma atividade que era a seguinte: eram duas aulas, e eles deveriam… é… e a atividade era.... eu tenho que… vocês vão...copiar um texto, depois vocês vão resumir o texto e escrever o que entendeu, o mesmo texto. Eu achei: puxa vida, eles já estão indo pro 1º ano e eles vão fazer a mesma atividade, três vezes? E eu passei, na semana, na escola, vendo todos os outros professores fazendo… reproduzindo aquele… aquela, aquela maneira de ensinar. Quando tinha um aluno que tinha um pouco de dificuldade, não davam a atenção necessária, se não sabiam escrever, se não sabia ler direito, o conteúdo era passado. Quando eu cheguei em casa, eu cheguei decidido a ser professor. Eu sou da área de vendas, já tava tranquilo com os filhos, assim, né, falei: vou prestar… vou fazer a… o Enem. E debati em casa com algumas coisas pra que eu pudesse ser professor. A minha decisão, naquele momento, era fazer alguma coisa diferente. Eu não tinha a pretensão de que só eu vindo estudar, eu conseguiria fazer uma mudança tão grande, mas eu decidi fazer minha parte. Vim pra Diadema, entrei na Unifesp e comecei o curso de licenciatura. Aí tem uma larga jornada das vezes que eu entrei e tive que parar um pouco o curso, por causa do trabalho e algumas DPs da vida que fizeram… na verdade, fazem… fazem até a gente estudar melhor. E uma das histórias que eu mais gostei, que eu tenho… que… numa situação que me marcou, foi quando eu fui ser professor… é… eventual. E eu fui nas diretoria de ensino de Diadema e tinha uma… parecia um… um grande sorteio do Minha Casa, Minha Vida, porque tinham um monte de pessoas pra pegar aula. Nisso, eu nunca imaginei que eram tantas pessoas. Eu pensei que eu ia chegar lá e pegar uma escola e tudo mais. Quando eu cheguei lá, vi os sorteios, as pessoas iam pegando as aulas, escolhendo as escolas e eu acabei pegando 13 aulas na escola… no CEFAM, aqui na E.E. Diadema, de Ciências. E eu tinha tido umas aulas muito boas com os professores. E eu falei: poxa, vida! Eu nunca fui ensinado desse jeito. Não tive nem tempo de estudar direito. E isso, se eu colocar isso em prática, isso vai dar certo. Comecei minhas aulas aqui no… na escola E.E. Diadema e em uma outra escola, chamada Escola Problema, lá na Joaniza, inclusive nessa escola eu fui… eles me prenderam na sala uma vez e eu fiquei gritando, pedindo até alguém me soltar, né. Conforme o tempo, eu tinha uma classe só lá, eu coloquei um número, o número 5, lembro até hoje, que seria o tempo que eu achei que eu seria amigo daquela sala. Resumindo: eu perdi até… roubaram até meu tablet nessa escola. Mas depois de 3 semanas, quando viram minhas fotos, foram na escola devolver, que era do professor. Então, eu percebi que algo de bom eu estava fazendo. Mas voltando ao CEFAM, eu fui ao laboratório, eu percebi que tinha 40 computadores que ninguém usava. E também tinha um laboratório de ciências que as pessoas não usavam. E eu comecei a tentar reproduzir as coisas que eu fazia na faculdade, as aulas que eu tinha dos grandes nomes da educação, as aulas que eu tive com os professores e tudo aquilo que dava pra fazer na sala de aula, eu queria colocar em prática. Os alunos, eles não... não estavam preparados com uma proposta assim, eles… primeiro eles tiveram uma renitência muito grande, o fato de eu cumprimentá-los, saber … saber o nome deles e na hora que todo mundo ia embora, cumprimentá-los, né, e eles foram se abrindo aos poucos. Com o tempo, as nossas aulas saia da sala de aula. Nós íamos sempre para o laboratório, fazíamos coisas simples, como coletar coisas na escola e também para o laboratório de informática. Cada proposta que eu ia fazendo, os alunos iam comentando nas outras salas. E aí eu fui participar… fui encontrar com outros professores. E isso nos tornou…  deu… deu um choque, porque alguns professores me perguntaram: quantos anos você tem? Naquela época, eu tinha 43 pra 44 anos, e ele falou: nessa idade, não arrumou uma outra coisa pra fazer? Você vai ser professor? Você vai morrer sem se aposentar; olha, eu vi… isso não vai dar certo, quero ver quanto tempo você vai aguentar. E com isso, na escola, os alunos foram pedindo pra usar projetor pros outros professores, foram pedindo pra usar… é… é… laboratório de informática. Conforme a minha amizade com os alunos ia aumentando, com os professores mais tradicionais, aqueles antigos, iam ficando… ia criando-se uma inimizade, a ponto de eles nunca almoçarem comigo e eu chegar em salas e eles falarem, é… antes… antes de entrar: olha, aquele professor lá, não sei pra onde, não sei pra onde ele vai com aquilo… isso não vai dar certo. Então, essas coisas me marcaram. Que funcionava com os alunos. Existiam salas de aulas… que… de 40 alunos, que eu não preci… poderia ensinar do mesmo jeito. Quem não sabia ler, eu tinha que incentivá-los a desenhar. Quem não sabia escrever, eu tinha de incentivá-los a cantar. Mas, no final das contas, todos reproduzi… todos conseguiam, se eu fosse por caminhos diferentes, chegar no resultado. Então o que mais me marcou era que os alunos aceitavam uma proposta nova. E os professores eram muito renitentes com qualquer novidade que chegasse. Uma das experiências que eu fiquei mais chocado, foi quando eu participei do ATPC e também do conselho de escola, onde alguns diziam assim: ah não, esse tem laudo, não precisa nem chegar perto dele, passa ele direto; ah não, esse oh… vamos combinar todo mundo e vamos dar 4; ah, esse não fez nada, bom vamos passar esse aí, pra não ficar na escola. Então, essas coisas me marcaram. Eu aprendia coisas na universidade… não estou dizendo que eram de todos os professores… alguns reproduziam exatamente o que eu via na escola, o que não era… o que eu não achava que era bom. Mas outros me davam uma dimensão interessante do que eu podia fazer. Então, a possibilidade de aprender coisas novas e colocar em prática na escola me fascinava, porque quando eu fechava a… a porta, eu podia dirigir a sala da maneira que eu queria. Então, essas coisas me marcaram. Eu acredito que as pessoas estão prontas pra uma proposta nova. Eu acredito que eles estão ansiosos pra não ficar só no quadro, pra usar as tecnologias de celular, de retroprojetor, de softwares, de aplicativos de celular. Essas coisas eu já fazia. Então, a possibilidade de ensinar me deu vontade de continuar. E agora que eu tenho mais tempo, eu posso fazer isso melhor. Então, essa é minha história.