Transcrição do áudio:

 

Eu sou Micael e eu sou de São José dos Campos, quer dizer, estudo em São José dos Campos, mas eu nasci em Salvador. Tenho 20… 24 anos, tô me formando né (risos).

A história que eu escolhi é meio... eu acho que é uma história que me definiu, por um tempo, assim.

É… desde que eu entrei adolescência, eu me envolvi muito com arte, com dança, com… com canto, com música e eu era da igreja, participava do ministérios de louvor, de dança, fazia muitas coisa na igreja, né, fazia parte do grupo jovem. E era uma coisa que eu gostava muito de fazer, uma coisa que eu gostava muito de… de estar presente. E, eu lembro que eu… comecei… é… pra entrar no ministério de louvor, que era que eu, tipo, já dançava, mas eu… eu queria o ministério de louvor, né, que… que era uma coisa que… sei lá (risos)... que me interessava também. E, quando eu conversei com… com… com a minha pastora sobre isso… ela, né… deixou eu participar do ministério de louvor (risos)... e… e… e foi assim, durante algum tempo assim... todo domingo, domingo era as nossas apresentações principais assim, que a gente preparava durante a semana e minha rotina era basicamente… eu ia 6 dias pra igreja na semana, só não ia 7 dias porque, na quinta-feira, eu me recusava. Eu tirava um dia em que eu não ia pra igreja, na quinta-feira. Passados alguns anos depois dessa… dessa rotina assim, de igreja, eu lembro que… um dia… eu nem lembro mais o motivo… mas, eu lembro que teve um… uma história… uma treta com um dos meus amigos assim, do ministério de dança. E aí eu lembro que juntou o pessoal todo, e foi na casa da pastora pra conversar e pra… e pra entender, né, o que tinha acontecido. E aí passado a história, e depois eu fiquei lá, né, pra conversar com ela e com o pessoal que morava com ela, uma… não sei (risos)... e… e lembro que a gente entrou numa discussão, assim, não foi uma briga, foi só uma… uma discussão mais acalorada, em que a gente acaba dizendo coisas, né. E eu lembro que ela me disse uma coisa que eu fiquei muito… que na hora eu não sei se eu entendi direito, mas assim que eu cheguei em casa, eu comecei a pensar que ela ficou com uma grande dúvida sobre me pôr ou não no ministério de louvor. Porque ela entendia que aquilo era uma posição de… de destaque… e, né… e colocar alguém como eu, ela falou assim, ela (inaudível) (risos)... ah, Micael, aquele que… que fala bem assim… que anda bem assim… que canta bem assim… né… ela nunca que… nunca me viu pronunciar nada, nem dizer o que estava na cabeça dela. Mas é como a minha vó dizia, né: pra bom entendedor, meia palavra basta. E… na hora não… não… não tinha entendido muito bem que aquilo que ela ia dizer. Mas depois cheguei em casa, aque… aquela conversa veio, começou a passar de novo na minha cabeça e aí eu quis entender, né, o que que era esse falar assim, andar assim, cantar assim que ela quis se referir, né. E eu entendi, finalmente eu entendi (risos), e foi meio decepcionante pra mim receber uma… uma informação dessa vindo de uma pessoa que eu admirava tanto, sabe, uma pessoa que era uma referência pra mim de… de tudo, sabe… da vida, do que é certo. E quando eu tava na igreja, a gente tinha uma… uma visão, de que algumas coisas eram erradas, né. E eu, como eu cresci na… na igreja, cresci com essa visão também. Mas a partir do momento que eu comecei a ter o entendimento que ser quem eu sou não é errado (pelo menos eu não acho que é errado (risos))... é… ela não queria me pôr no ministérios de louvor simplesmente porque ela me lia como uma pessoa gay e ela achava que isso poderia, sei lá, influenciar as pessoas, eu acho. E, talvez fosse influenciar realmente as pessoas ou influenciou, não sei (risos)... mas sei lá, poderia ter sido simplesmente retirado do ministério ou alguma coisa assim por causa disso. Depois disso, desse… dessa… desse acontecimento, eu mesmo saí do ministério, eu saí da igreja também nessa época, isso foi um… ham… eu lembro que esse foi um… a queda do muro de Berlim pra mim, sair da igreja e… e num momento que… eu percebi que, independente do que eu tentasse, do que eu fizesse, mesmo que eu não quisesse (risos), as pessoas iam me ler de um jeito e eu teria que sofrer as consequências dessa leitura. Então decidi que, a partir do momento que… se as pessoas vão me ler de um jeito que eu, né, vou definir esse jeito que as pessoas me ler, sei lá… eu vou assumir uma bandeira, vou colocar essa bandeira do meu jeito, ao meu modo, é isso (risos).